Edicões Gambiarra Profana/Folha Cultural Pataxó

sábado, 28 de julho de 2012

JOHN (Contos do bar)



      O dono do bar terminou de lavar os copos na pequena pia, depois colocou um a um virados para baixo na bandeja, pegou o pano e secou o balcão. O bar era pequeno, tinha um balcão, uma prateleira onde ficavam as garrafas de bebidas quentes, uma pequena cozinha, um único banheiro, um pequeno depósito para cervejas e refrigerantes, três mesas com quatro cadeiras cada e ficava numa das ruas centrais do bairro, entre o centro e o rio antes da linha do trem. Na mesa do fundo ainda se encontrava sentado um último cliente, que parava ali todos os dias, vestia sempre um paletó preto por cima da camisa branca, chapéu preto e óculos e todos o chamavam de “John”.
     O dono do bar terminou a arrumação, aproximou-se da mesa que John estava usando, onde havia uma garrafa de cerveja vazia, uma dose de traçado e um botão de rosa.

- Está na hora de ir John.
John levantou a cabeça, olhou já meio atordoado pelo álcool, virou o restante do traçado, olhou outra vez para o homem a sua frente.
 - Hum...
- Está na hora de ir descansar John.
John pegou o botão de rosa, levantou, olhou outra vez para o dono do bar e falou:
- Viu a rosa que ganhei?
- Você comprou da moça que passou vendendo, você compra toda sexta, esqueceu?
- Não, mas faz bem imaginar que ganhei.
John se equilibrou e foi caminhando até a porta, chegando lá, virou e disse:
- Um dia vou ganhar o Nobel da paz.
- O que o faz pensar isso John?
- Sou um cidadão, apesar de acharem que não, por quase nunca estar sóbrio, mas nunca joguei bombas no Japão ou em Pearl Harbor.
- Cuidado John quando for atravessar a ponte sobre o rio e atravessar a linha do trem.
- Domingo vou ao Rio – disse John.
- Fazer o que?
- Vou assistir minha musa da juventude em Crepúsculo dos Deuses, que estréia na cidade.
- Um bom passeio, mas você deveria parar de beber assim John.
- Sou feliz assim e fico sóbrio só quando quero, domingo estarei.
John mirou a rua e seguiu seu caminho com sua lucidez.
O dono do bar apagou as luzes, arriou as portas de aço do bar, passou a chave, fez o sinal da cruz.
- Obrigado por mais um dia Senhor.
Depois da breve oração, o dono do bar seguiu para casa,  eram quase meia-noite, a rua estava deserta e as seis da manhã teria que abrir seu bar. John, John apareceria pelas 14 e ficaria até o bar fechar, como todos os dias. Nunca aos domingos.

Arnoldo Pimentel



Amigo (a) leitor (a) seja bem vindo (a),este conto faz parte da Trilogia Contos do Bar, são três de contos de minha autoria, todos passados na atmosfera do bar, se tiver um tempinho leia os contos e deixe sua opinião, ela é sempre muito importante. Os links e títulos estão abaixo, desde já agradeço a opinião e a visita.

 BATMAN E O SUPER-HOMEM SÃO FRAGÉIS



BÚFFALO



domingo, 22 de julho de 2012

COR DO GIRASSOL


 Já vi flores espalhadas sobre vidros
Escondendo os vidros
Já me cortei em flores
E em vidros

Os cantos das ruas escondem as luas
Já me escondi nas ruas
No beco do teatro
Em noite sem lua

No palco do meu teatro
Que ficou muito tempo de portas fechadas
Para os olhares das ruas

Até procurar no céu a cor do girassol
E sentir a chuva molhar os galhos soltos
Que ainda estavam vivos

Arnoldo Pimentel

Visite a Folha Cultural Pataxó e leia o texto “Sala de Aula” de Cristiano Marcell
A Folha Cultural Pataxó é um zine e blog onde a prioridade é a Cultura e a Educação, onde também pode-se ler ótimos poemas. Se puder leia e comente o texto do Cristiano, sua opinião é muito importante pra nós. Link abaixo:


domingo, 15 de julho de 2012

ATRÁS DAS ÁRVORES BROTAM FLORES


Não sei se estender as mãos é o suficiente
Levanto-as para o céu
E as montanhas à minha frente
Continuam quietas

As portas se abrem
E as palavras ecoam em meus ouvidos
As cores das paredes
São sempre iguais

O pássaro que eu espero ver voando
Não cruza o céu
Em direção ao rio

Atrás das árvores brotam flores
Mas para colher
É preciso ter o coração puro

Arnoldo Pimentel

 Amigo(a) visite o link abaixo e leia a segunda parte da minha entrevista ao Poetas de Marte, desde já agradeço a amizade.




domingo, 8 de julho de 2012

DEPOIS QUE O GALO CANTAR


Ainda não ouvi o galo cantar
Mas confesso que tenho medo
Do que poderá vir, fico confuso
Só em pensar como a lua irá dormir hoje

As estradas irão aparecer do nada
Mas só poderei seguir uma
A estrada do meu destino
E não sei se estarei pronto

Para levar aos ventos
O Amor que conheço
Para falar desse Amor
Que não mereço

Minha fragilidade está à flor da pele
Acho que ficarei à beira mar
Ficarei por horas
Para tentar descobrir
Se poderei mesmo ser um pescador



Este poema é parte integrante do conto de minha autoria “Se as Folhas Ainda Fossem Verdes...”, para ler o conto basta acessar o link abaixo, desde já agradeço, muito obrigado pela visita e pela amizade.


quarta-feira, 4 de julho de 2012

SEM LEMBRANÇAS BOAS NA MOCHILA


Vou partir sem olhar pra trás
Esquecer todo o bem que foi feito
Porque os ladrilhos quebrados
Sempre cortam mais fundo a carne crua

As lembranças boas não servem na estrada
São apenas ítens que farão a mochila pesar mais
Enquanto a sede agrava a solidão que deveria morrer logo
Para não deixar vestígios na poeira

Talvez eu não tenha mesmo direito de viver na lua
Tenho perdido água durante a noite sem desejo de viver
Meu coração já não sente o bater da aurora
Bem sei que o dia não amanhece no meu bosque

Sou filhote de lobo faminto sem presa para caçar
Sem vírgula para separar as frases sem sentido
Um grito solto no deserto escuro
Tentando ser ouvido nos muros do paraíso

Meu paraíso naufragou numa noite sem chuva
Nem meus braços puderam alcançar uma ilha
Vou padecer sem lembranças boas na mochila
As lembranças saciavam minha sede e escorreram para o chão seco

Meu corpo deixará de ser meu abrigo
Vou vagar no deserto longe do sol
Serei o ato descartado no final da peça
Palco vazio que ficou sem vida

Autor: Arnoldo Pimentel

Visite meu blog Ventos na Primavera e conheça a poesia de Rosilne Jorge dos Ramos