Edicões Gambiarra Profana/Folha Cultural Pataxó

terça-feira, 26 de junho de 2012

ANJO DE BARRO


A fruteira estava em cima da mesa
Mas estava vazia
O barro que sujava suas pequenas mãos
Era tudo que tinha

Pelo pequeno vão da janela
Dava pra ver
A cerca de arame farpado
Que enfeitava o solo seco

As árvores tinham apenas galhos
Secos e mortos
O céu era tão azul
Que queimava os olhos

E a fruteira ficava ali
Sempre ali
Sem saber quando as frutas
Iriam vir

Arnoldo Pimentel

 
Amigo (a) leitor (a), seja sempre bem vindo (a), se puder leia os contos da solidão, de minha autoria, links abaixo, desde já agradeço, muito obrigado mesmo.

 
GDÁNSK

A QUITANDA

A PARTIDA

sexta-feira, 22 de junho de 2012

HAVERÁ UM TEMPO



Haverá um tempo
Em que vou atirar-me da ponte de ferro no penhasco
Para encontrar meu tesouro no fundo do abismo
Que fica depois da oitava curva do rio
Onde enterraram meu coração no norte da minha vida

Haverá um tempo
Em que a fonte dos desejos não estará esperando meus anseios
Nas tardes sem sol em que fiquei sonhando com a menina de cabelos dourados
Que estava trazendo a cesta de biscoitos de polvilho
Com olhar que seduzia as flores que enfeitavam os lados do caminho

Haverá um tempo
Em que as chuvas noturnas esconderão as estrelas que enfeitavam
As paredes pintadas nas lembranças que traduziam os desejos
De felicidade esvoaçada na liberdade de pensamentos
Que evaporam nos sonhos perdidos entre os travesseiros brancos

Haverá um tempo
Em que a luz da minha vida será apagada pela desilusão
No inverno que ficará mais tempo que a neve
Para embranquecer os corações desesperados e abandonados
Na colheita que começou na aurora e findará antes da tarde vazia

Arnoldo Pimentel

quinta-feira, 14 de junho de 2012

SOMBRAS NO LADO ESCURO DO CORREDOR


Nada está escrito
As páginas do caderno que ainda não foram abertas
Estão em branco
Assim como as páginas que foram escritas
Apagadas e viradas
Com o peito perfurado
As folhas continuarão caindo das árvores
Das árvores sem vida
E da árvore da vida
Os corpos são deixados ao acaso
Sobre a relva seca
Sob os edifícios cinza
Que nem os olha
Enquanto cojulgam o verbo
Amar

quinta-feira, 7 de junho de 2012

VARSÓVIA



Pombos que voam pra lugar nenhum
Rostos sem sentido algum
Pés descalços
Olhos ilhados

Sombras que chegam
Sem saber de onde
Caminhos perdidos
Sem horizonte

Corpo suado
Praia sem mar
Coração alado
Sem poder voar

Arnoldo Pimentel

Este poema é parte integrante do livro Ventos na Primavera