Edicões Gambiarra Profana/Folha Cultural Pataxó

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Livro da Rosilene Jorge dos Ramos



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quarta-feira, 25 de abril de 2012

EU FIZ UM GOL




Houve um tempo que me dediquei ao futebol, como técnico e também como diretor de escolinha para garotos até 14 anos. No ano de 2001, eu e um amigo professor iniciamos um projeto para ensinar futebol e cidadania para garotos entre doze e quatorze anos, no começo eram 12 garotos e no final em 2006, quando deixamos o projeto com outros amigos, tínhamos cinquenta e oito garotos entre sete e quatorze anos. O professor ficava basicamente com a parte de campo e eu com a organização e um pouco de campo, e todo fim de semana tínhamos treinamento e também partidas amistosas com outros projetos. A parceria entre eu e o professor sempre deu certo, apesar termos visões diferentes em algumas coisas, como o tratamento aos garotos, ele era totalmente profissional, não se envolvendo em nada a não ser ensinar a prática do esporte e cidadania, enquanto eu me envolvia muito com os garotos, procurando saber junto às famílias sobre estudo e comportamento, com isso eles tinham em mim um amigo de todas as horas, e acho que por isso minha parceria com o professor sempre deu certo, pois além de amigos, nos entendíamos perfeitamente dentro do que fazíamos, apesar de opiniões diferentes em alguns pontos.
Todo sábado e domingo eu saia de casa com o material, bolas, uniformes, e alguns garotos me acompanhavam, pois residiam por ali, e foi num desses dias que vi na esquina um garoto pequeno, bem pequeno, uma chuteira na mão e um sorriso no rosto e me perguntou se poderia ir, respondi que sim, mas precisaria de uma autorização do responsável, no caso dele o pai, por escrito e assinada e assim ele entrou para o time. Quando chegamos ao clube, os outros garotos logo o chamaram de Romarinho, talvez por ser baixinho, mas assim passou a ser conhecido no projeto. Todas as categorias eram divididas por idade, e Romarinho ficou na categoria dele. Todo fim de semana, quando eu saia de casa por volta das seis da manhã para ir à padaria, lá estava Romarinho, sentado na calçada de sua casa com a chuteira na mão, eu falava que estava cedo, ele falava que já estava pronto e que iria fazer um gol, seu sonho era fazer um gol para o pai ver, mas o pai de Romarinho trabalhava todo fim de semana e não podia ir, mas ele sempre falava hoje vou fazer um gol pro meu pai ver, o pai não ia e o gol também não saia. Como Romarinho era menor e menos experiente, geralmente ficava na reserva, mas sempre entrava, corria, brigava, chutava, mas o gol não saia. Um dia quando eu passava pela rua para ir a padaria pelas seis da manhã e vi Romarinho sentado na calçada de sua casa, senti algo no coração, acho até hoje que foi um toque de Deus, e pensei hoje é o dia, alguma coisa me falava que naquele dia o gol sairia, o gol tão esperado, o gol tão sonhado, tão acreditado. Esperei o pai do garoto sair para o trabalho e fui falar com ele, pedi para ir no jogo, era importante pro menino, e seria na parte da tarde, as 15 horas, era festa de aniversário do projeto e teríamos um projeto amigo convidado, ele falou que tentaria ir. O jogo começou às 15 horas e o pai do Romarinho ainda não havia chegado, mas do campo, no banco de reservas ele olhava todo momento para a arquibancada, esperando ver o pai ali, torcendo por ele, acabou o primeiro tempo, descanso, menino impaciente, com os olhos procurando seu pai, o segundo tempo começou e ele entrou em campo, o jogo corria e lá pela metade do segundo tempo, o pai de do menino entrou no clube, sentou-se na arquibancada e ficou torcendo pelo filho, que do campo o viu na torcida, nessa hora ele começou dar mais ainda de si, as gotas de suor escorriam pelo corpo, tanto que antes do final estava cansado, o professor olhou pra mim e falou que iria substituir o Romarinho, então lhe pedi pela primeira vez, pois o professor tem a responsabilidade, autonomia, e eu jamais interferia no seu trabalho de campo, mas falei com ele, deixe o Romarinho e assim foi feito, o menino ficou em campo. Quando faltavam uns cinco minutos para o final, houve uma roubada de bola no meio do campo, e esta foi passada para o Mateus, ele tinha dois adversários pela frente, poderia passar por eles em direção ao gol, tinha plenas condições disso, mas jogou para a direita e levou até o fundo, lançou para o meio, a bola veio cortando a área, pernas tentando alcançar, em vão, o goleiro mergulhou esticando as mãos, mas não alcançou, foram quando o menino franzino veio correndo pela esquerda, o nome dele, Romarinho, estava ali a sua frente o gol esperado, sonhado, perseguido, o pai levantou-se na arquibancada, pescoços se esticaram, mãos acenaram, todos torcendo, uns contra, outros a favor, e a bola sorrateira como ela, cortava a grama em direção aos pés de Romarinho, ele chegou chutando, naquele momento, houve um silêncio, a bola viajou em direção ao gol, cortando o vento, cortando o tempo, o vácuo entre a alegria e a tristeza, segundos de incerteza, Romarinho olhando com os olhos arregalados e mãos cerradas, e então a bola balançou as redes, finalmente o gol, perseguido, sonhado, tudo parou, a única imagem que existia era a do garoto franzino correndo para as grades, agarrando-se nas grades, subindo pelas grades como se fosse alcançar o céu, gritando para o pai, eu fiz um gol, eu fiz um gol, eu fiz um gol.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

DEPOIS DA CHUVA


Eu já dei tudo que tinha pra dar
Até mesmo minhas sombras
Meu calvário
Os passos que eu tinha pra me encontrar

Já se foi a vida que eu sonhava por aqui
As montanhas de Machu Picchu
A mensagem de vida eterna
Que eu nem mesmo vi ou ouvi

Já sumiram minhas chagas
Rasgadas
No rincão onde nasci
Chagas que nunca pude sentir

Eu dei tudo que pude por aqui
Não sobrevivi
Não senti a magia do beija-flor
Nem mesmo morri
Na solidão em que vivi

quarta-feira, 11 de abril de 2012

ANTES DA CHUVA


Acho que olhei a lua de forma diferente
Com olhos ausentes
E não percebi que havia uma fresta de luz
Que iluminava o canto onde eu estava
Talvez a lua tenha virado o rosto naquele momento
E deixado de mostrar o sorriso
Que pintaria em cores, mesmo listradas
Assim meio apagadas
A casa onde nasci

Quem sabe a lua não quis me ver assim
Com o rosto empoeirado
Pelas sobras dos dias que não vivi

Talvez a lua tenha sentido o frescor do vento
Que chega escondido por trás da serra
Trazendo a chuva que semeará os campos

A chuva que semeará meus sonhos
Sonhos de poder correr pelos campos
Abraçar os lírios brancos
Cantar um novo canto

Sonhos de entrar em minha casa
E amar os pingos coloridos da chuva pela janela
Sonhos de plantar a liberdade
Plainar pelas montanhas da minha mocidade
Sonhos de amar a minha vida de verdade

Talvez a lua tenha virado o rosto para não olhar
Meus olhos iluminados
Pelos sonhos que seriam frustrados

Antes da chuva
Eu tinha sonhos

Arnoldo Pimentel

Se você quer ler uma poesia bem diferente e de originalidade, conheça a poesia hermética dadaísta de Sérgio Salles-Oigers.
Sérgio Salles-Oigers é editor da Gambiarra Profana, poeta,compositor hermético dadaísta de plantão,  se desejar siga o blog e comente.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

REENCONTRO

Vou até a geladeira e pego um copo com água
Chego perto da janela do apartamento
Janela um pouco embaçada pelo frio
E olho para baixo
Vejo pessoas andando tranquilas e outras apressadas
Carros sem destino
Ônibus partindo

Fico imaginando
O que faço aqui, apenas olhando
Tento descobrir porque ainda não tive lugar certo
Sinto-me um “estranho no ninho”
Uma taça de cristal sem vinho
Um corpo vazio

Talvez a chuva fina que cai lá fora
Esteja guardando um horizonte ainda ausente
Esteja guardando os olhos que sinto
Mas ainda não vi

Enquanto isso fico aqui a olhar
A chuva fina e fria que embaça a janela
E pensando quando entrarei no ônibus que partirá
Fico pensando quando os melhores anos de minha vida
Vão me reencontrar