Edicões Gambiarra Profana/Folha Cultural Pataxó

domingo, 26 de dezembro de 2010

AMOR ANORMAL (Márcio Rufino)


A PARTIR DE HOJE AS POSTAGENS DESSE BLOG SERÃO DE POEMAS DO ZINE 08 DO GAMBIARRA PROFANA, GRUPO DE POESIAS QUE PARTICIPO, O ZINE TEM 27 POESIAS DE 23 POETAS,ENTRE ELES, Sérgio Salles-Oigers, Márcio Rufino, Fabiano Soares da Silva, Arnoldo Pimentel, Jorge Medeiros, Agnaldo Estrela, Silviah Carvalho, Lenne Butterfly, Ivone Landim, Gabriela Boechat e outros.

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Poeta de Hoje: Márcio Rufino (http://emaranhadorufiniano.blogspot.com)

AMOR ANORMAL (Márcio Rufino)

Sentir o proibido não é nada,
Pior é aceitar o proibido
Num rumo qualquer da estrada,
Ou na dolorosa manhã da libido.

O outro não quer minha atormentada insônia
Muito menos que eu mude meu misterioso hábito
Só quer sentir o sufoco e o cheiro de sua agonia
Dentro do denso aroma que sai de dentro do meu hálito

Não é nada atender o desejo do outro
Pior é fazer com que esse desejo seja também seu
E ver dentro da lama do outro o ouro
Acreditando que o calvário é um doce himeneu

Entregar-se a perversão passiva,
É muito difícil como cômoda intolerância
Que revertida em condição de vida,
Brota em nosso peito uma vacância.

Da janela da minha casa,
O vento me beija numa linha retilínea
Mas vejam: Estou sem graça.
Lembrei-me que esta casa não é minha.

Olhe só toda beleza,
Que a morte desta tarde nos oferece
E preste atenção em toda destreza
De me encantar com seus olhos de quem não me conhece.

O futuro me assusta muito,
Com a ajuda do tempo me agride
Com ameaças de sérios infortúnios,
Onde o chão sob meus pés resiste.

O outro também quer me dominar,
Como o futuro e o tempo ele também é assim
Com frieza e crueldade quer me usar
Sem saber que também será vilipendiado por mim.

Com seu cinismo ele comanda a brisa louca,
Transforma nosso encontro num fato casual
Ele quer sentir o odor de seu sêmen em minha boca
Mas isso são sonhos imundos que povoam minha cama de casal.

Em seu feitiço ele busca uma corda de banjo
Em seu silêncio ele busca um bocal de clarineta
Pares de asas vermelhas de anjo,
Pares de chifres brancos de capeta.

O outro sou eu num idílio híbrido,
O outro somos nós num dilacerado momento.
Que desenha o amor anormal e ilícito
Num papel invisível rasgado pelo vento.

Esse amor que por se ousar existir,
Subvive a margem do planeta
Prestes a se deixar cair,
E ser amparado por um rabo de cometa.

Não sei o porquê de todo esse desprezo,
Se tudo que aí está é amor
Queria falar de todo o meu desejo,
Sem causar deboche nem horror.

Pois o outro me conhece como um mero conhecido
Me cumprimenta como um qualquer que por acaso me vê
Conversa comigo como um velho e íntimo amigo
E pede meus carinhos com a carência e dengo de um bebê.

Dedico esse texto a memória de Clarice,
E continuo sufocando a minha agressividade
Pois a anormalidade me disse,
Que o amor e arte é que salvarão a humanidade.

5 comentários:

  1. Arnoldo,

    um poema espetacular! Obrigada por esta preciosa partilha, amigo.

    Carinhoso beijo aos amigos Arnoldo e Márcio. Um Novo Ano feliz sob todos os aspectos para todos voces e familiares.

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  2. Amigo,

    fiquei sem palavras e sem fôlego.

    de uma beleza que faz entrar noutro espaço.

    bj

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  3. É como retirar a venda dos nossos olhos e nos expor, ao mais profundo do nosso intimo,o verdadeiro eu, sem medos, sem pudor, sentir e simplesmente viver.É verdadeiramente amar, e deixar-se amar.Maraavilhooso poema. Beijos.

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  4. nooosa....que belo poema!!!

    "Que o amor e arte é que salvarão a humanidade".

    concordo com a anormalidade..

    bjinhus

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  5. "Se tudo que aí está é amor" Então merece louvor! Amor anormal, não deixa de ser uma forma de amar... Gostei muito, pela coragem de expor um amor anormal. Feliz 2.011! Beijos!

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