O dono do bar terminou de lavar os copos na pequena pia, depois colocou um a um
virados para baixo na bandeja, pegou o pano e secou o balcão. O bar era
pequeno, tinha um balcão, uma prateleira onde ficavam as garrafas de bebidas
quentes, uma pequena cozinha, um único banheiro, um pequeno depósito para
cervejas e refrigerantes, três mesas com quatro cadeiras cada e ficava numa das
ruas centrais do bairro, entre o centro e o rio antes da linha do trem. Na mesa
do fundo ainda se encontrava sentado um último cliente, que parava ali todos os
dias, vestia sempre um paletó preto por cima da camisa branca, chapéu preto e
óculos e todos o chamavam de “John”.
O dono do bar terminou a arrumação, aproximou-se da mesa que John estava
usando, onde havia uma garrafa de cerveja vazia, uma dose de traçado e um botão
de rosa.
- Está na
hora de ir John.
John
levantou a cabeça, olhou já meio atordoado pelo álcool, virou o restante do traçado,
olhou outra vez para o homem a sua frente.
-
Hum...
- Está na
hora de ir descansar John.
John
pegou o botão de rosa, levantou, olhou outra vez para o dono do bar e falou:
- Viu a
rosa que ganhei?
- Você
comprou da moça que passou vendendo, você compra toda sexta, esqueceu?
- Não,
mas faz bem imaginar que ganhei.
John se
equilibrou e foi caminhando até a porta, chegando lá, virou e disse:
- Um dia
vou ganhar o Nobel da paz.
- O que o
faz pensar isso John?
- Sou um
cidadão, apesar de acharem que não, por quase nunca estar sóbrio, mas nunca
joguei bombas no Japão ou em Pearl Harbor.
- Cuidado
John quando for atravessar a ponte sobre o rio e atravessar a linha do trem.
- Domingo
vou ao Rio – disse John.
- Fazer o
que?
- Vou
assistir minha musa da juventude em Crepúsculo dos Deuses, que estréia na
cidade.
- Um bom
passeio, mas você deveria parar de beber assim John.
- Sou
feliz assim e fico sóbrio só quando quero, domingo estarei.
John
mirou a rua e seguiu seu caminho com sua lucidez.
O dono do
bar apagou as luzes, arriou as portas de aço do bar, passou a chave, fez o
sinal da cruz.
-
Obrigado por mais um dia Senhor.
Depois da
breve oração, o dono do bar seguiu para casa, eram quase meia-noite, a
rua estava deserta e as seis da manhã teria que abrir seu bar. John, John
apareceria pelas 14 e ficaria até o bar fechar, como todos os dias. Nunca aos
domingos.
Arnoldo
Pimentel
Amigo (a) leitor (a) seja bem vindo (a),este conto faz
parte da Trilogia Contos do Bar, são três de contos de minha autoria, todos
passados na atmosfera do bar, se tiver um tempinho leia os contos e deixe sua
opinião, ela é sempre muito importante. Os links e títulos estão abaixo, desde
já agradeço a opinião e a visita.
BATMAN E O
SUPER-HOMEM SÃO FRAGÉIS
BÚFFALO
Pensar que podemos nos faz poder.
ResponderExcluirArnoldo amado, que texto!
ResponderExcluirDeixo um abraço fraternal e ao vento um beijo até você para novas inspirações....
Nicinha
Arnoldo
ResponderExcluirQue maravilha, me emocionei, quantos John por aí, não é mesmo? Um abraço, um ótimo domingo, obrigado pelo carinho, tudo de bom.
OI ARNOLDO!
ResponderExcluirBELEZA TEU CONTO.
QUANTAS PESSOAS VIVEM ASSIM, ESCRAVIZADOS PELO VÍCIO, MAS ESTE JOHN, AINDA TEM CURA, PORQUE NÃO PAROU DE SONHAR.
QUEM SABE AINDA VAI RECEBER UMA ROSA?
ABRÇS
zilanicelia.blogspot.com.br/
Click AQUI
Arnoldo,
ResponderExcluiroutro conto muito bom. E o final contém aquela estranheza necessária nos contos, quase uma sentença, mas em aberto.
Beijos!
Arnoldo,essa rotina de um bar se torna atraente em seu lindo conto!Gostei!Bjs,
ResponderExcluirArnoldo lindo texto,
ResponderExcluirserá que a quantas pessoas por aí vivendo assim. Me pareceu uma forma bonita de se viver porque ele ainda sonha.
Beijos
Arnoldo
ResponderExcluirE assim tudo tem preço. Até administrar um bar com Johns da vida que quebram a rotina. Adorei o seu conto.E john ainda sonha com a rosa.
Bjs.
Arnoldo
ResponderExcluirBem descrita esta forma de vida do John. Não sendo boa esta filosofia, quem sabe se este personagem não necessita de ter os neurónios um pouco toldados para enxergar coisas mais bonitas do que aquelas que vê diariamente? Por exemplo receber uma rosa de presente da pessoa que ama e que parece não dar pela sua existência?
A vida tem destas coisas. Destas pessoas, John e Barman. Ainda bem que há bares onde se pode cogitar durante horas sem que o dono reclame.
Parabéns. Abraço
Amigo Arnoldo: uma excelente descrição de muitos Johns!
ResponderExcluirO que está por trás dessas atitudes e dessas vidas?!
Abraço amigo